Vivências
Arrependido
Homem de
estatura media, oriundo do meio rural, de trato fácil mas reservado, analfabeto,
com sessenta anos feitos, recluso no Estabelecimento Prisional de Monsanto, em
cumprimento de pena máxima por homicídio, na década dos anos sessenta, do
século passado, quando atingiu a parte da pena exigida, e, dado o seu bom
comportamento prisional, o Director do Estabelecimento Prisional, propô-lo para
a concessão da liberdade condicional.
A proposta
foi recebida no Tribunal de Execução de Penas, o processo foi instruído e
seguiu termos normais, foi ouvido o recluso, que se mostrou muito agradado, foi
proferida a sentença favorável ao pedido expresso e procedeu-se à notificação
do arguido.
Após ser notificado,
o arguido reuniu seus parcos haveres, recebeu o pecúlio a que tinha direito e
saiu em liberdade, “ condicionada “.
Na paragem
em frente ao Estabelecimento Prisional apanhou o autocarro da carreira número
11, seu destino era procurar familiares, que esperava encontrar, num bairro
degradado, junto à Praça de Espanha, onde desceu.
Nos anos que
esteve preso, e, foram muitos, toda aquela zona sofreu grandes alterações, onde
era a antiga feira popular, estava e esta, a Gulbenkian, espaço totalmente
diferente, o bairro onde ele esperava encontrar familiares, havia sido demolido
e servia de estaleiro de obras em curso. Tudo mas mesmo tudo por ali estava
diferente, para ele era desconhecido.
Consciente da
sua condição de precária liberdade, na Avenida de Berna, numa casa de frutas
existente, pegou num cacho de bananas, pô-las às costas e seguiu, logo foi
barrado pelo dono do lugar que chamou a polícia, não ofereceu qualquer
resistência, imediatamente foi detido.
Constituído o
processo na Polícia de Segurança Pública, foi o detido levado à presença do
Juiz que dois dias antes, lhe havia concedido a tão almejada liberdade
condicional.
O detido foi
ouvido pelo Juiz, mostrou-se arrependido, pediu para regressar à cadeia e ao
serviço que lá costumava executar, ele fora o ordenança do director do
Estabelecimento, estava mais tempo no exterior dos edifícios do que no interior
dos mesmos. Disse mesmo ao Juiz: SIC “ Senhor Doutor Juiz, cumprirei o resto da
pena, e, se possível prolongue-me a prisão, para que eu não saia de lá mais,
sem familiares não saberei mais viver em liberdade “.
Voltou
novamente à condição de recluso, para cumprir o que lhe faltava da pena,
foram-lhe aplicados mais dois anos pela desobediência.
Do tribunal
seguiu para o Estabelecimento Prisional de Monsanto e não mais fomos
contactados.
Rio de Mouro 03-10-2020 – Francisco Parreira.