quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

--Francisquinho dos sete ofícios--

Vivência de sete ofícios

Como vou descrever

Não levem a mal

Guardei gado, raspei vinha

Como trabalhador rural.

No montado marcador

Ajuntador e coqueiro

Desempenhei com fervor

A profissão de serralheiro

Na grande serralharia

Abandonei trabalho sujo e dureiro

Procurei uma padaria

Lá aprendi a ser padeiro

Fui amaçador e forneiro.

Mas eu desejava mais

Na tropa amanuense

Escriturário e escrivão nos tribunais

Na TAP um TRT – Tec.Rec.Trafego

Técnico escriturário

Até me reformar

Foi este o meu fadário

Até o Projecto Criar Afectos encontrar              Rio de Moro 29.10-2929 Francisco Parreira

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 


Proverbio

Dá Deus Nozes a quem não tem dentes

 I – No Alentejo eu tenho,

Especial nogueira,

Sem miolo colho nozes,

Furadas desta maneira.

II – Foram estas as nozes,

Que me calhou apanhar,

Se já me faltam dentes,

Não as podia mastigar.

III – Gosto de vê-lo trabalhar,

Nas secas árvores Picar,

Fazendo o seu buraquinho,

Onde vai nidificar.

IV – Seu nome pica-pau,

Branco e preto é o safado,

Com tão grande habilidade,

Fica todo esventrado.

V – ele é o primeiro,

Deste trabalho seriado,

Quando está satisfeito,

Vai cantar para outro lado. 

VI – A seguir vem o chapim,

De bico fino e tenaz,

Pelo minúsculo furo,

Tira tudo o que é capaz. 

VII – Segue-se então a formiga,

Com seu saber genial,

Nada a incomodando,

Faz a extracção final. 

VIII – Sem fazer distinção,

A natureza criou,

Seguindo o ciclo da vida,

Três cadeias alimentou. 

 Rio de Mouro 19-10-2020

Francisco Parreira.


- Biografia -

 Agostinho da Silva

Jorge Agostinho Batista da Silva, nascido no Porto em 13-02-1906 e falecido em Lisboa a 03-04-1994. Filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo, pedagogo, tradutor, combinou elementos de panteísmo milenarismo e a ética da renúncia, afirmando que a liberdade é a qualidade mais importante do ser humano e sempre empenhado da mudança da sociedade.

No ano em que nasceu, foi para Barca d’Alva, aos seis anos regressou ao Porto, iniciou a escola na Escola Primária de São Nicolau em 1912 e em 1914 ingressou na Escola Industrial Mouzinho da Silveira, no Liceu Rodrigues de Freitas de 1916 a 1924 fez os estudos secundários. Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde terminou a licenciatura com 20 valores e defendendo o seu doutoramento como título “ o sentido histórico das civilizações clássicas “ de onde saiu com louvor.

Em 1931 parte como bolseiro para Paris, indo estudar na Sorbonne e no Collège de France e colaborava na revista Seara Nova.

Em 1933 regressa a Portugal e ao ensino secundário em Aveiro até 1935, altura em que é demitido, por se recusar a assinar “ A Lei Cabral “, que obrigava todos os funcionários públicos, a declarar por escrito, que não pertenciam a organizações secretas.

Nesse mesmo ano consegue uma bolsa do Ministério-das-Relações Exteriores de Espanha, onde vai estudar no Centro de Estudos Ibéricos de Madrid. 

Devido à iminência de guerra civil em 1936 regressa a Portugal e em 1939 cria o museu pedagógico Antero de Quental. Em 1943 é preso pela polícia política e em 1944 abandona o país e ruma à América do Sul, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina. No ano de 1947 instala-se no Brasil onde viveu até 1969, primeiro em São Paulo, depois em Itatiaia, onde fundou uma comunidade. Trabalha em 1948 no Instituto Osvaldo Cruz no Rio de Janeiro e estudava entomologia e simultaneamente ensinava na Faculdade Fluminense de Filosofia.

Colaborou em várias iniciativas, foi assessor político externo do presidente Jânio Quadros. Participou na criação da Universidade de Brasília, idealizou o Museu do Atlântico Sul em Salvador da Baía.

Após a morte de Salazar em 1969 regressa a Portugal e continua a leccionar.

Emitiu uma série televisiva e deu algumas entrevistas.

Não se sabe ao certo quantos filhos tinha, quando nasciam eram filhos de pai incógnito, mas pelo menos sete eram.

Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago de Espada em 1987.

Morreu em Lisboa em 1994 no Hospital São Francisco Xavier. 

 

Rio de Mouro 01-09-2020 - Francisco Parreira.

Fontes de informação Internet.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

 

Consumismo

A- Que barafunda neste quarto, o que estás a fazer?

B- Estou a separar roupa velha ou que já não uso, para levar para o lixo e arranjar lugar para a peças que vou comprar, vem aí o Natal. Olha, olha está aqui uma peça que ainda não a estriei, já não se usa e eu não gosto dela, vai também.

A- Em lugar de pores no lixo toda essa roupa, porque não a pões num       saco ao lado do contentor, que alguém ainda a aproveita.

B -Não gosto de me ver com ela, não gosto de ver mais alguém usá-la.

A -Está bem tu é que sabes.

B - Agora tenho que comprar roupas com mascaras a condizer.

A - Também não é preciso tanto exagero.

 B -T u quando compras uma camisa ou um fato, compras gravatas a condizer, eu também posso comprar adereços a condizer.

 A -Está bem, está bem, olha falaste no Natal, como vai ser este ano, na nossa casa ou na casa dos filhos?

B - Não sei ainda, é cedo e este ano não estou na disposição de por as mãos nas massas. Não deve faltar onde comprara os fritos e os doces.

A - Sim mas nós adoramos os caseiros feitos por ti, mas assim talvez não haja tanto desperdício.

B -Este ano não faço doces para ninguém.

A -Olha e com respeito às prendas, como é este Natal?

B -Ainda não sei, tenho andado a ver umas coisas lindas, mas ainda não decidi, e tu o que queres?

A -Há eu fico barato, cada um de vocês dá-me um abraço bem apertado e eu fico consulado.

Rio de Mouro, 21-10-2020. Francisco Parreira.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

 


Pitangas

I

Não são só nozes furadas,

No Alentejo também há beleza,

Olhem lá estas pitangas,

Se não são uma lindeza?

II

Também já tem clientes,

Saborosas como são,

Já aparecem picadas,

Na árvore e no chão,

III

Escolhe sempre as melhores,

Na árvore dependuradas,

Vermelhas e maduras,

Suportam suas picadas.

IV

Não sei qual é o magano,

Que lhe diferencia a cor,

Logo que amadurecem,

Ele vai experimentar o sabor.

V

Só lhe comendo a polpa,

O caroço não lhe agrada,

Saltitando de ramo em ramo,

Muita deixa lá picada.

 

 

 

VI

É mínimo o prejuízo,

Enorme a alegria,

Ver aquela passarada,

Voando por ali todo o dia.

 

Rio de Mouro 20-10-2020



Francisco Parreira.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 Vivências

Arrependido

Homem de estatura media, oriundo do meio rural, de trato fácil mas reservado, analfabeto, com sessenta anos feitos, recluso no Estabelecimento Prisional de Monsanto, em cumprimento de pena máxima por homicídio, na década dos anos sessenta, do século passado, quando atingiu a parte da pena exigida, e, dado o seu bom comportamento prisional, o Director do Estabelecimento Prisional, propô-lo para a concessão da liberdade condicional.

A proposta foi recebida no Tribunal de Execução de Penas, o processo foi instruído e seguiu termos normais, foi ouvido o recluso, que se mostrou muito agradado, foi proferida a sentença favorável ao pedido expresso e procedeu-se à notificação do arguido.

Após ser notificado, o arguido reuniu seus parcos haveres, recebeu o pecúlio a que tinha direito e saiu em liberdade, “ condicionada “.

Na paragem em frente ao Estabelecimento Prisional apanhou o autocarro da carreira número 11, seu destino era procurar familiares, que esperava encontrar, num bairro degradado, junto à Praça de Espanha, onde desceu.

Nos anos que esteve preso, e, foram muitos, toda aquela zona sofreu grandes alterações, onde era a antiga feira popular, estava e esta, a Gulbenkian, espaço totalmente diferente, o bairro onde ele esperava encontrar familiares, havia sido demolido e servia de estaleiro de obras em curso. Tudo mas mesmo tudo por ali estava diferente, para ele era desconhecido.

Consciente da sua condição de precária liberdade, na Avenida de Berna, numa casa de frutas existente, pegou num cacho de bananas, pô-las às costas e seguiu, logo foi barrado pelo dono do lugar que chamou a polícia, não ofereceu qualquer resistência, imediatamente foi detido.

Constituído o processo na Polícia de Segurança Pública, foi o detido levado à presença do Juiz que dois dias antes, lhe havia concedido a tão almejada  liberdade  condicional.

O detido foi ouvido pelo Juiz, mostrou-se arrependido, pediu para regressar à cadeia e ao serviço que lá costumava executar, ele fora o ordenança do director do Estabelecimento, estava mais tempo no exterior dos edifícios do que no interior dos mesmos. Disse mesmo ao Juiz: SIC “ Senhor Doutor Juiz, cumprirei o resto da pena, e, se possível prolongue-me a prisão, para que eu não saia de lá mais, sem familiares não saberei mais viver em liberdade “.

Voltou novamente à condição de recluso, para cumprir o que lhe faltava da pena, foram-lhe aplicados mais dois anos pela desobediência.

Do tribunal seguiu para o Estabelecimento Prisional de Monsanto e não mais fomos contactados.

 

Rio de Mouro 03-10-2020 – Francisco Parreira.

 A Batalha das Berlengas

Esta batalha teve como senário o Oceano Atlântico e o Forte de São João Baptista, edificado na Berlenga Grande, foi travada no ano de 1666, durante a guerra da restauração, entre portugueses e espanhóis.

O forte era à altura chefiado pelo cabo António Avelar Pessoa, e, tinha uma guarnição de pouco mais de vinte homens, enquanto a frota espanhola sediada em redor das ilhas, nas profundas águas oceânicas, era comandada por Diogo de Ibarra, composta por 15 embarcações e centenas de homens.

A finalidade do cerco e ataque era raptar a rainha D. Maria Francisca de Saboia, na sua chegada ao reino de Portugal, para impedir que casasse com D. Afonso VI.

A frota invasora ia destruindo tudo ao seu alcance, já tinha destruído as pescas portuguesas, bombardeadas as cidades ao longo da costa, por onde passava, cortava o fornecimento de alimentos por via marítima, tudo isto em apenas um mês.

Em dois dias de bombardeio naval, as perdas foram proporcionais ao poderio, quem mais tinha mais per deu, foi afundada a nau Covadonga e foram danificadas outras duas, que foram afundadas no regresso a Cadis.

Após a heróica resistência e a traição de um desertor foi tomado e destruído o forte, a guarnição restante capturada, sendo o cabo António Avelar Pessoa ferido em combate, transportado para Peniche.

Cerca de cem anos mais tarde foi reconstruída a fortaleza e aumentado o seu poder de fogo.

Na época presente o barco que faz a carreira entre Peniche e Berlenga, tem o nome do valoroso cabo António Avelar Pessoa,

Rio de Mouro 08-10-20

Francisco Parreira