sábado, 29 de novembro de 2014

De:
Enviada: sexta-feira, 28 de Novembro de 2014 16:58
Para: "Undisclosed-Recipient:;"
Assunto: Juíz «Carlos Alexandre

Quem se mete com o Juiz...LEVAAAAA

Não comento, pois, ainda posso ir fazer companhia ao filósofo Engº Sócrates.
«Carlos Alexandre ilibou o CDS no caso dos sobreiros, ilibou Oliveira e Costa e os outros amigos de Cavaco no caso BPN e ficou famoso por não ser capaz de investigar e levar a julgamento os responsáveis do BPN. Também interrogou Salgado, notificando-o na sua casa e deixando-o sair, após algumas horas de interrogatório, com uma caução daquelas para brincar aos pobrezinhos, e ainda não prendeu ninguém do BES, ninguém no caso da legionella, ninguém dos submarinos, tudo o que investiga passa para o 'Sol' e para o 'Correio da Manhã' e não detém Felicia Cabrita para lhe perguntar nada, com base no indicio de fuga ao segredo de justica, etc... Mas, como dizia a minha avó, mais vale cair em graça, do que ser engraçado»..

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

UM RETRATO MAGISTRAL FEITO HÁ 118 ANOS MAS COM ACTUALIDADE ATERRADORA. REFERIA-SE A QUEM, GUERRA JUNQUEIRO? ADIV UM RETRATO MAGISTRAL FEITO HÁ 118 ANOS MAS COM ACTUALIDADE ATERRADORA. REFERIA-SE A QUEM, GUERRA JUNQUEIRO? ADIVINHA! A TRISTE CONCLUSÃO É QUE NÃO SE APRENDEU NADA COM OS GRANDES DE OUTRORA!
- "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião,um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
- Um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso,pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
                Guerra Junqueiro, 1896

sábado, 22 de novembro de 2014

_O D E  À  P A Z_

 Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
... Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)
Ode à Mentira 

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças, 

como sereis cruéis, como sereis injustas? 

Quem torturais, quem perseguis, 

quem esmagais vilmente em ferros que inventais, 

apenas sendo vosso gemeria as dores 

que ansiosamente ao vosso medo lembram 

e ao vosso coração cardíaco constrangem. 

Quem de vós morre, quem de por vós a vida 

lhe vai sendo sugada a cada canto 

dos gestos e palavras, nas esquinas 

das ruas e dos montes e dos mares 

da terra que marcais, matriculais, comprais, 

vendeis, hipotecais, regais a sangue, 

esses e os outros, que, de olhar à escuta 

e de sorriso amargurado à beira de saber-vos, 

vos contemplam como coisas óbvias, 

fatais a vós que não a quem matais, 

esses e os outros todos... - como sereis cruéis, 

como sereis injustas, como sereis tão falsas? 

Ferocidade, falsidade, injúria 

são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso 

o coração que apavorado em vós soluça 

a raiva ansiosa de esmagar as pedras 

dessa encosta abrupta que desceis. 

Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo. 

Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos? 

Descereis, descereis sempre, descereis. 


(Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'
ROMANCE INGÉNUO DE DUAS LINHAS PARALELAS

Duas linhas paralelas,
muito paralelamente,
iam passando entre estrelas
fazendo o que estava escrito:
caminhando eternamente
de infinito a infinito.

Seguiam-se passo a passo
exactas e sempre a par
pois só num ponto do espaço,
que ninguém sabe onde é,
se podiam encontrar,
falar e tomar café.

Mas farta de andar sozinha,
uma delas certo dia
voltou-se para a outra linha,
sorriu-lhe e disse-lhe assim:
«Deixa lá a geometria
e anda aqui para o pé de mim...»

Diz a outra: «Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar,
temos de ir devagarinho,
andando sempre a direito
cada qual no seu caminho!»

Não se dando por achada
fica na sua a primeira
e sorrindo amalandrada,
pela calada, sem um grito,
deita a mãozinha matreira,
puxa para si o infinito.

E com ele ali à frente,
as duas a murmurar
olharam-se docemente,
e sem fazerem perguntas,
puseram-se a namorar,
seguiram as duas juntas.

Assim, nestas poucas linhas
fica uma estória banal
com linhas e entrelinhas
e uma moral convergente:
o infinito afinal
fica aqui ao pé da gente.


In “Eu Sou Português Aqui”
Edições Ulmeiro

José Fanha

domingo, 16 de novembro de 2014

Hino à TolerânciaJá será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes. 
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém. 

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

segunda-feira, 10 de novembro de 2014


CONTO
CARROSSEL DE PAIXÕES
 Com o queixo assente nas palmas das mãos e os cotovelos apoiados na mesa,  Joselito é a imagem do pensador profundo. Ou de um homem angustiado,  uma situação não anula a outra. Entretanto no bar, Aniceto estranha e interroga-se acerca do significado que pode ter a posição do amigo.  Sobressalta-o com uma palmada nas costas e vai direito ao assunto.
Que se passa, rapaz, pareces preocupado.
E estou.
Problemas?
O problema de ter de tomar una decisão difícl.
Para já,  vamos tomar um como.
Não bebo alcoól.
Desde quando?
Desde ontem.
É de homem. Que tomas então?
Pode ser uma caipirinha.
Bem pensado. Faço-te companhia.
Aniceto pede as bebidas ao empregado do bar e apressa-se em saber que diabo  preocupa o amigo.
Se não quizeres conversa, calo-me já. Mas, enfim,talvez eu possa ajudar-te na decisão que tenhas que tomar.
Não podes. Terei de ser eu a optar entre a Matilde, a Luizinha e a Graça. Elas  conheceram-se, estás a ver o que aconteceu? Chegaram à fala, treco-lareco, uma a uma identificaram-me como o suposto futuro marido.
As três?
As três. E encostaram-me à parede. Tenho de optar por uma só.
Manias de mulheres. E qualquer delas está na disposição de ficar contigo, desde que em exclusivo?
Todas. E não é extraordinário?
Vê o caso do Jacques, um tipo com aquele ar de galã de telenovela e ninguém lhe pega.
Não me fales no Jaques.
Porquê? É o exemplo do sedutor perfeito mas não há mulher que se apaixone por ele. E eu, magricela, meio vesgo, gago, e sou disputado por três mulheres de arregalar os olhos. Faz sentido?
Não muito
Quem dera ao Jaques ver-se na minha situação. Que, aliás, é bem complicada.
Mas complicada porquê, pá? Haverá uma que te agrade mais que as outras duas.
Tu não entendes, Aniceto. O problema não é escolher uma, é perder as outra duas. Cada uma delas tem os seus especiais encantos. Como poderei prescindir da voz doce da Matilde? Ou da sensualidade perturbadora da Graça? Ou do humor e ternura da Luizinha? São três amores e, optando, fico sempre a perder.
Concordo. Perdes dois a um.
Imagina a felicidade do Jaques se alguma delas o quizesse. E eu neste drama. Quem dera que os atractivos de todas elas estivessem reunidos  numa só. Seria  fácil e perfeita a escolha.
Recosta-se, eleva o olhar para o teto,  bruscamente debruça-se sobre a mesa, segura os pulsos do Aniceto e segreda com a voz enrouquecida:
Só  há uma, bem, bom amigo,igual à soma daquelas três queridas.
Vá lá, descobriste uma raridade. E quem é?
Posso dizer, Aniceto?
Claro, é alguém que eu conheça?    
Perfeitamente. Desculpa dizer-te, Aniceto, mas a única mulher que me seduz na totalidade é a tua namorada.
A Carla?
A Carla. Sempre. Desde que tiveste a maldade de me a apresentar. Perdoa , meu amigo,  mas ninguém é dono e senhor dos seus sentimentos. E confesso que te envejo por teres a Carla.
O rosto de Aniceto não revela se ficou ofendido ou lisonjeado com a confissão inesperada. Silencioso, passa as mãos repetidamente pela nuca e, por fim, diz:
Acontece , Juselino, que a Carla já não é minha namorada.
Emoções desencontradas desenham no rosto do outro. Primeiro de surpresa, depois a animação de uma ideia que nunca lhe ocorrera:
Sendo assim....quer dizer que eu posso agora ter esperança?
Aniceto torna a passear as mãos pela nuca, bebe um trago e diz num murmurio:
Não creio, Juselito. Ela trocou-me pelo Jaques.
Casais de mem martins
10/11/14

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

ESTÓRIA DE INFÂNCIA
A  noite  estava demasiado quente, tal como tinha estado já o dia, como natural era naquela época do ano. Estávamos em Junho, mês dos santos populares,  altura do ano propícia a festas e bailes ao ar livre, bailes de adiafa pelo remate de um  trabalho, bailes de mastro por promessas religiosas  ou mesmo para comemoração dos próprios santos.
Aquele era um baile de mastro por promessa religiosa, um mastro enorme com  saia grande  e bem efeitado com flores e muitos bolos.
Estávamos na Quinta Nova, uma quinta não muito grande, muito bem tratada e com um lindo jardim repleto de flores, de várias cores e  qualidades,   destacando--se um lindo roseiral, no ar pairava um aroma inconfundível. Entre o jardim e o monte, um rua larga empedrada. O monte uma casa grande, bastante comprida de um só piso,  como eram todas em seu redor, caiada de branco com  barras azuis. Ao meio um portão largo em ferro,  a antrada principal.
O mastro estava colocado no centro da rua empedrada, empedrado este que naquela zona estava coberto de montrastos, fetos, alecrim e rosmaninho, sobre os quiais era praticado o baile, ao som da música da concertina.
Os donos da quinta eram pessoas de bem e muito conceituadas naquele meio rural, tal como bem conceituados eram os quinteiros, os promotores daquele mastro “ festa de arromba “ , onde por todo o lado haviam pratos com queijo, choriço, presunto, pão, bolos e bebidas.
Toda a gente das redondezas deve ter ido aquele baile, era gente por todo o lado, no local do baile quase não era possível passar, devido ao aglomerado de gente.
Eu e os meus amigos  de oito, nove e dez anos,  e outros que se juntaram a nós,  além dos bolos e pirolitos, queriamos era brincadeira. Com frequência  um ou outro ia perguntar as horas e saber dos familiares, voltando novamente para a brincadeira.
Chegou a hora de eu ir ver da minha mãe,  com quem tinha ido e saber as horas, e quando nos iamos embora.
Quando eu andava no meio daquele gentio a tentar localizar a minha mãe, vi um meu afastado parente, perguntei-lhe as horas e se tinha visto a prima, a minha mãe, ele respondeu-me: “ são onze, a tua mãe andou à tua busca e não te encontrou, pensou que tivesses ido com algum vizinho e já se foi embora”. Eu admirei-me mas como dei mais uma volta e não a vi, abalei sózinho. Estava um luar espectacular, logo que me afastei da zona do baile, só a sombra das árvores, o cantar dos ralos ou o ladrar do cães ao longe me faziam companhia.
Eu tinha forsosamente que passar  por um local, onde diziam que apareciam medos, contavam-se as estórias mais mirabulantes, era considerado um local medonho, onde pouca gente passava só, a altas horas da noite. Quanto mais me aproximava daquele lugar, mais mal me sentia, tinha frio, tinha calor, tinha suor, tinha não seio o quê, provavelmente  aquilo a que se chama medo. Entrei naquela área chamada paul, uma estrada de maquedame, ladeadas de frondosos eucaliptos, com tanta ramegem que nem uma luzerna do brilhante luar ali penetrava. Quando já caminhava na ponte, sobre o ribeiro ouvia correr a água do meu lado esquerdo, não a via mas sabia que ela lá estava, enchendo um lavadouro enorme com dez ou doze pedras, onde as mulheres iam lavar a roupa, do meu lado direito um enormissímo canavial,  neste preciso momento e rodeado por este cenário, no cimo dos eucaliptos uma coruja,  considerada por muitos “ ave do agoiro “ começa a piar, aquele pio que parece choro, tremi que “ nem varas verdes “, mas lá passei, já estava proximo de casa e foi numa só corrida até lá chegar.
O avô ainda estava levantado, como era seu hábito, quando alguém estava de noite fora de casa. Pouquissímo tempo depois chegou a mãe, tinha visto o primo e ele dissera-lhe que eu tinha dito que me vinha embora, cansada de correr para me apanhar, não me apanhou ela, mas apanhei eu um grande ralhete por ter acreditado na conversa daquele “fala barato”,  uma pessoa que a especialidade dele, como vim a saber mais tarde, quando o conheci melhor, era inventar tretas,  para enganar quem nele acreditasse, criando assim intrigas, sem razão de ser, sendo para ele uma vitória, de que se vangloriava, mas algumas vezes também levou bons enxertos de porrada,  não foi o meu caso por ser um garoto, mas vontade não me faltou.
Casais de Mem Martins 07/11/14                Francisco Parreira