Zé Ninguém, artista de Circo
A vila foi-se mostrando aos poucos como se ele a descobrisse enquanto crescia. Uma revelação a cada instante para aquela criança!
Zé Ninguém olhava o mar tentando alcançar toda a sua distância. Olhava os navios que chegavam como os marinheiros que partiam. Aliás, a vila foi sempre o seu mundo durante toda a sua pequena idade. Aquele ar tinha o cheiro de vida pura, embora dura.
De olhar mais para o centro da vila viu, de repente, um enorme toldo de muitas cores. Quase não acreditou que pudesse estar ali um circo. A correr dirigiu-se àquele espaço mágico. Logo que chegou àquela praça encontrou um homem, gordo e baixo, a retirar dum saco um par de sapatos enormes que este tinha concertado.
- Mas, senhor, que sapatos são esses? – indagou Zé Ninguém.
- São dum artista de circo, são do Palhaço Zéquinha.
O circo acabava de armar-se quando um ajudante de pista, a mando do proprietário, chegou para levantar os sapatos do palhaço. Depois este e Zé Ninguém aproximaram-se daquele circo, de pano grosso e colorido, ocupando o enorme largo. Dois mastros de ferro sustentavam-no.
Uma entrada apenas e logo apareceu um homem alto e distinto.
- Os sapatos do palhaço, disse o ajudante de pista.
Que aconteceu naquele momento?
O Zé Ninguém viu aquele homem que tinha os sapatos embrulhados e não sabia que estava de frente do Palhaço Zéquinha. Então este perguntou-lhe:
- Tu já viste um circo?
- Já – respondeu ele.
- Assim, sem espectáculo?
- Assim, não!
As bancadas em círculo estavam vazias. O picadeiro em silêncio. Nos fundos, lados opostos aos camarins, as jaulas do leão e do tigre. Também um elefante, pesado e muito manso, parecia como se estivesse adormecido. Estacaram em frente às jaulas e Zéquinha apresentou:
- Meus amigos, estes são alguns dos animais do circo!
Era como uma estranha natureza: mistura de magia e medo, inocência e poder que se reflectia no Zé Ninguém. Depois acrescentou, com um riso a formar-se nos lábios:
- Somos como ciganos, que andamos de terra em terra.
- E que faz o senhor no circo?
- Anda ver. Puxou-o pela mão e retomando às bancadas pediu-lhe que se sentasse.
O Zé Ninguém sentou-se naquela atmosfera mágica: sem vozes e ruídos, olhando aquele espaço enorme, à espera que algo de extraordinário acontecesse naquela pista vazia.
Então as luzes acendem-se e surgem alguns músicos a tocarem um tema musical circense. Zéquinha aparece já com o seu fato de palhaço a tomar o seu lugar no centro da pista, surgindo logo dois companheiro que com ele formam a sua parelha de palhaços e o ajudam nos diversos números cómicos.
- Muito obrigado! – foi tudo o que o Zé Ninguém conseguiu dizer no final daquela deslumbrante actuação.
Depois saiu daquele local. Rua abaixo, aquela imagem artística não lhe largava a mente. Aquela manhã que parecia nunca mais ter fim, mostrava-lhe um largo coberto de caravanas onde se fabricava “o melhor espectáculo do mundo”, com sonhos de mil especialidades, embora à custa de muito trabalho e criatividade.
Depois daquele dia, Zé Ninguém ficou mais rico. Sentia-se alguém, independentemente de continuar na rua, a deambular de lugar para lugar, a dormir aqui e acolá. Mas teve o privilégio de ver o circo por dentro. Teve atenções de honra. Aprendeu a sonhar e agora sabia como deveria ocupar o seu tempo: ser artista de circo. E a rua teve menos um sem abrigo, um Zé Ninguém, porque este acreditou que era possível ser alguém!
Zé Ninguém olhava o mar tentando alcançar toda a sua distância. Olhava os navios que chegavam como os marinheiros que partiam. Aliás, a vila foi sempre o seu mundo durante toda a sua pequena idade. Aquele ar tinha o cheiro de vida pura, embora dura.
De olhar mais para o centro da vila viu, de repente, um enorme toldo de muitas cores. Quase não acreditou que pudesse estar ali um circo. A correr dirigiu-se àquele espaço mágico. Logo que chegou àquela praça encontrou um homem, gordo e baixo, a retirar dum saco um par de sapatos enormes que este tinha concertado.
- Mas, senhor, que sapatos são esses? – indagou Zé Ninguém.
- São dum artista de circo, são do Palhaço Zéquinha.
O circo acabava de armar-se quando um ajudante de pista, a mando do proprietário, chegou para levantar os sapatos do palhaço. Depois este e Zé Ninguém aproximaram-se daquele circo, de pano grosso e colorido, ocupando o enorme largo. Dois mastros de ferro sustentavam-no.
Uma entrada apenas e logo apareceu um homem alto e distinto.
- Os sapatos do palhaço, disse o ajudante de pista.
Que aconteceu naquele momento?
O Zé Ninguém viu aquele homem que tinha os sapatos embrulhados e não sabia que estava de frente do Palhaço Zéquinha. Então este perguntou-lhe:
- Tu já viste um circo?
- Já – respondeu ele.
- Assim, sem espectáculo?
- Assim, não!
As bancadas em círculo estavam vazias. O picadeiro em silêncio. Nos fundos, lados opostos aos camarins, as jaulas do leão e do tigre. Também um elefante, pesado e muito manso, parecia como se estivesse adormecido. Estacaram em frente às jaulas e Zéquinha apresentou:
- Meus amigos, estes são alguns dos animais do circo!
Era como uma estranha natureza: mistura de magia e medo, inocência e poder que se reflectia no Zé Ninguém. Depois acrescentou, com um riso a formar-se nos lábios:
- Somos como ciganos, que andamos de terra em terra.
- E que faz o senhor no circo?
- Anda ver. Puxou-o pela mão e retomando às bancadas pediu-lhe que se sentasse.
O Zé Ninguém sentou-se naquela atmosfera mágica: sem vozes e ruídos, olhando aquele espaço enorme, à espera que algo de extraordinário acontecesse naquela pista vazia.
Então as luzes acendem-se e surgem alguns músicos a tocarem um tema musical circense. Zéquinha aparece já com o seu fato de palhaço a tomar o seu lugar no centro da pista, surgindo logo dois companheiro que com ele formam a sua parelha de palhaços e o ajudam nos diversos números cómicos.
- Muito obrigado! – foi tudo o que o Zé Ninguém conseguiu dizer no final daquela deslumbrante actuação.
Depois saiu daquele local. Rua abaixo, aquela imagem artística não lhe largava a mente. Aquela manhã que parecia nunca mais ter fim, mostrava-lhe um largo coberto de caravanas onde se fabricava “o melhor espectáculo do mundo”, com sonhos de mil especialidades, embora à custa de muito trabalho e criatividade.
Depois daquele dia, Zé Ninguém ficou mais rico. Sentia-se alguém, independentemente de continuar na rua, a deambular de lugar para lugar, a dormir aqui e acolá. Mas teve o privilégio de ver o circo por dentro. Teve atenções de honra. Aprendeu a sonhar e agora sabia como deveria ocupar o seu tempo: ser artista de circo. E a rua teve menos um sem abrigo, um Zé Ninguém, porque este acreditou que era possível ser alguém!
Luciano Reis
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