quinta-feira, 25 de setembro de 2014

MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
Eu,  Mário de Sá carneiro, nasci em Lisboa em 19 de Maio de 1890.
Minha família é auto-borguesa, sou neto e filho de militares.
Fiquei orfão de mãe aos dois anos de idade. Fui criado pelos avós, na quinta da Vitória em Camarate, onde passei  grande parte da minha infância.
Iniciei-me na poesia aos doze anos de idade. Com 15 anos comecei a traduzir Victor Hugo  e com 16 traduzi Goethe Schilder.
Em 1911, com 21 anos ingressei na Faculdade de Direito em Coimbra, não tendo terminado o ano académico, conheci ali o meu melhor amigo e confessor, Fernando Pessoa.
Desiludido com a cidade dos estudantes, rumei a Paris, para prosseguir os estudos, com o auxilio do meu pai, na Univercidade de Sorbonne.
Pouco tempo depois abandonei as aulas, dediquei-me à vida boémia, frequentei cafés e salas de espectáculos.  A ajuda do meu pai não era suficiente, passei fome, desesperado tive uma ligação imocional com uma prostituta, para combater as  frustações e desesperos.
Psicologicamente instável e socialmente inadaptado, sendo neste ambiente que  compus  a maior parte da minha poesia, mantendo  a minha correspondência com o meu amigo e confidente Pessoa.
Entre 1913 e 1914 vim com frequência a Lisboa, acabando por ficar por cá e na companhia de Fernando Pessoa e Almada Negreiros integrei o primeiro grupo Modernista  Português.
Pretendiamos escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época, através da revista literária “ Orpheu “.  Ficámos conhecidos  pelo Grupo Orpheu, um escândalo literário, motivo pelo qual só sairam os dois primeiros números, março e junho de 1915, o terceiro foi impresso mas não publicado, sendo nós alvos de chacota social, mesmo assim somos reconhecidos uma das marcas  da literatura portuguesa.
Também colaborei em diversas revistas, a Alma Nova, Contemporânea, Píramede e Sudoeste, estas duas  últimas só depois de  Abril de 1916, deram voz à minha colaboração.
Em 1915 regressei a Paris, mas em crescente angustia, escrevi bastantes cartas ao meu  amigo e confidente Pessoa.
A vida assim  não me agrada e a que idealizo tarda em se concretizar.
Numa hora de maior angustia, adquiri 5 frascos de arseniato de estricnina, escrevi ao confidente Fernando Pessoa a ultima carta “ cart de despedida “ onde relato as minhas razões, demorei ainda alguns dias a enviar a carta, mas logo que a enviei regressei ao hotel Nice , no bairro Montmartre,  ingeri o conteúdo dos frascos e adormeci  a 26 de Abril de 1916.
< Meu querido Amigo
A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3  ( ou mesmo na vespera ), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estrecnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas custa-me tano escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas “ cartas de  despedida “.... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando:  afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por  aqui...já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma:  eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias – ou melhor: fui colocado por elas, numa aurea temeridade – numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei:  tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o hesterismo do seu ópio, as luas zebradas, mosqueiros roxos da sua ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre,  psocologicamente, às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. (.....) >
Mário de Sá-Carneiro,carta para Fernando Pessoa, 31 de Março de 1916

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