MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
Eu, Mário de Sá carneiro, nasci em Lisboa em 19
de Maio de 1890.
Minha
família é auto-borguesa, sou neto e filho de militares.
Fiquei orfão
de mãe aos dois anos de idade. Fui criado pelos avós, na quinta da Vitória em
Camarate, onde passei grande parte da
minha infância.
Iniciei-me
na poesia aos doze anos de idade. Com 15 anos comecei a traduzir Victor
Hugo e com 16 traduzi Goethe Schilder.
Em 1911, com
21 anos ingressei na Faculdade de Direito em Coimbra, não tendo terminado o ano
académico, conheci ali o meu melhor amigo e confessor, Fernando Pessoa.
Desiludido
com a cidade dos estudantes, rumei a Paris, para prosseguir os estudos, com o
auxilio do meu pai, na Univercidade de Sorbonne.
Pouco tempo
depois abandonei as aulas, dediquei-me à vida boémia, frequentei cafés e salas
de espectáculos. A ajuda do meu pai não
era suficiente, passei fome, desesperado tive uma ligação imocional com uma
prostituta, para combater as frustações
e desesperos.
Psicologicamente
instável e socialmente inadaptado, sendo neste ambiente que compus
a maior parte da minha poesia, mantendo
a minha correspondência com o meu amigo e confidente Pessoa.
Entre 1913 e
1914 vim com frequência a Lisboa, acabando por ficar por cá e na companhia de
Fernando Pessoa e Almada Negreiros integrei o primeiro grupo Modernista Português.
Pretendiamos
escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época, através da revista
literária “ Orpheu “. Ficámos conhecidos
pelo Grupo Orpheu, um escândalo
literário, motivo pelo qual só sairam os dois primeiros números, março e junho
de 1915, o terceiro foi impresso mas não publicado, sendo nós alvos de chacota
social, mesmo assim somos reconhecidos uma das marcas da literatura portuguesa.
Também
colaborei em diversas revistas, a Alma Nova, Contemporânea, Píramede e
Sudoeste, estas duas últimas só depois
de Abril de 1916, deram voz à minha
colaboração.
Em 1915
regressei a Paris, mas em crescente angustia, escrevi bastantes cartas ao
meu amigo e confidente Pessoa.
A vida
assim não me agrada e a que idealizo
tarda em se concretizar.
Numa hora de
maior angustia, adquiri 5 frascos de arseniato de estricnina, escrevi ao
confidente Fernando Pessoa a ultima carta “ cart de despedida “ onde relato as
minhas razões, demorei ainda alguns dias a enviar a carta, mas logo que a
enviei regressei ao hotel Nice , no bairro Montmartre, ingeri o conteúdo dos frascos e adormeci a 26 de Abril de 1916.
< Meu
querido Amigo
A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 ( ou mesmo na vespera ), o seu Mário de
Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estrecnina e desaparecerá deste mundo. É
assim tal e qual – mas custa-me tano escrever esta carta pelo ridículo que
sempre encontrei nas “ cartas de
despedida “.... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre
quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por
aqui...já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas
circunstâncias – ou melhor: fui colocado por elas, numa aurea temeridade – numa
situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única
maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre
sonhei: tive tudo durante eles:
realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o hesterismo do seu
ópio, as luas zebradas, mosqueiros roxos da sua ilusão. Podia ser feliz mais
tempo, tudo me corre, psocologicamente,
às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. (.....) >
Mário de Sá-Carneiro,carta para Fernando Pessoa, 31 de
Março de 1916
Sem comentários:
Enviar um comentário