Maio 1965
Era Domingo,
a manhã estava linda, a viagem entre Montijo e Sete Rios – Lisboa, decorria bem
aquele jovem de vinte e um anos, como era costume aos fins-de- semana,
Pouquíssima gente na rua, estava na hora das missas.
Quando ao chegar
à Praça do Chile o eléctrico abrandou o andamento, para à direita seguir pela
Morais Soares em direcção ao Alto de São João, aquele jovem saltou e correu
para atravessar a Praça, para o outro lado, onde apanharia outro eléctrico, foi
tão rápido o cerco que quase não teve tempo de respirar, não imaginava ele ser
possível e de onde tinham saído tantos policias, de fato escuro e viseira, para
o cercarem, em cerco tão cerrado, que nada se via para fora, tendo pelo menos
os da frente, as armas em punho. De entre eles saiu um graduado, com uma
pistola no coldre, eles recuaram um pouco, começou o interrogatório, em pleno
centro do antigo cruzamento dos eléctricos na Praça co Chile. De onde vens?
Para onde ias? Não lhe perguntou para onde vais, frisou bem, para onde ias,
enfim um sem número de perguntas, algumas delas sem qualquer nexo, tardiamente
a pergunta, o que fazes? Tens identificação? O jovem pediu licença, meteu a mão
ao bolso, tirou o cartão que o identificava, como funcionário público judicial,
tendo-o entregue ao referido graduado, que o mirou e remirou vezes sem conta.
Ordenou que baixassem as armas, cumprimentou-o com uma continência e devolveu-lhe
o cartão.
Com uma lamechice
sem nexo, pediu-lhe que subisse até à rua Manuel da Maia e aí apanhasse então o
eléctrico seguinte.
Tanto aquele
jovem como todos os passageiros que naquela paragem aguardavam o eléctrico, ficaram
a ser vigiados pelo polícia, a quem ele ordenara que acompanhasse, por ali os movimentos
do jovem, mas no lado oposto da rua, assim subiram os dois até à rua Manuel da
Maia, o mesmo esteve visível, pelo menos até todos entrarem no eléctrico e o
mesmo seguir viagem.
Da parte da
tarde, aquele jovem teve conhecimento que os estudantes do ( IST ) Instituto
Superior Técnico, ali pertinho tinham
convocado uma concentração, sem especificar o local, então todos os locais
possíveis estavam policialmente vigiados.
02- 05 -19 Francisco
Parreira.
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