SETE OFÍCIOS
De brincar eu sabia,
apenas onze anos de idade,
no rancho da cortiça aceite,
com uma escada às costas,
percorrendo os montados,
subindo e descendo encostas,
deixando cincos desenhados,
nas árvores de nova cor,
com aquela tinta branca,
eu era o marcador.
Trabalhar era uma honra,
muito tinha a aprender,
na escola dos calejados,
sabedores veteranos,
dos trabalhos e dos gados,
das verdades e enganos,
de todo o bem e o do mal,
pelos homens praticados,
muito aprendi afinal,
como trabalhador rural.
Ser homem é difícil,
a vida tem seus escombros,
garroxos e seus espinhos,
seja cedo, seja tarde,
sempre neles damos tombos,
saltinhos e mais saltinhos,
guardando a coisa boa,
repelindo o que é vil,
para não andar à toa,
fui serralheiro civil.
Logo o ferro enferruja,
sem finita duração,
com a roupa sempre suja,
uma desconsulação,
tive que pensar melhor,
mudei de profissão,
para ganhar mais dinheiro,
aprendi a fazer pão,
com farinha e relão,
apendi a ser padeiro.
O trabalho era de noite,
morcego eu não era,
coruja nem pensar,
que iria ser de mim?
tinha mesmo que mudar,
segundo ano fazer,
aos Tribunais concorrer,
para mudar de horário,
depois de tomar posse,
lá fui escritorário.
Todo o português homem,
tinha missão a cumprir,
defender a nossa Pátria,
gritava a todo o momento,
aquele grande ditador,
que vivia em São Bento,
fui na inspecção apurado,
não tinha como me safar,
assentei praça na Ota,
assim fui militar.
O Tribunal pagava mal,
mas ordenado sempre em dia,
quase não dava para o sal,
e a família crescia,
concorri para outro lado,
com outra condição,
tudo ali era diferente,
explicado em relatório,
aquela nova profissão,
empregado de escritório.
Em marcador comecei
por trabalhador rural passei,
serralheiro civil me ajeitei,
de ser padeiro gostei,
escritorário adorei,
militar eu nem sei,
em empregado de escritório acabei,
nestes sete ofícios tranzei,
por muitos outros grassei,
não pude mais reformei.
20-02-2015 ---- Francisco Parreira
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