sexta-feira, 6 de maio de 2022

Texto de autoria de Letinha Conde. - 

 De vez em quando tenho saudades nossas. Mas quando telefonas a única coisa que queres saber é se sou feliz. Como é que se pode resumir toda uma vida numa pergunta? E qual resposta seria a que gostavas de ouvir? Fazes perguntas tão simples e ao mesmo tempo complicadas. Reparaste que nunca te fiz tal pergunta? Não fiz nem farei porque não conseguirias responder-me. Talvez dissesses. Sim. Talvez. Não sei. Porque sabemos que a felicidade nunca é definitiva. É por vezes, é às vezes, é quando é, e outras não chega a ser.

Com a idade que tens já o devias saber. Há coisas mais importantes em que nos devemos focar. Toda a gente quer ser feliz, mas a maior parte nem nunca vislumbrou essa sensação. Porque a felicidade é uma sensação, um estado de espírito, não é um modo de vida. Nem é o que nos ensinam e metem na cabeça. Que nascemos para ser felizes, e nos gera angústias, e um enorme peso, quando parece que todos o conseguiram menos nós. Mas todos gostam de se mostrar felizes. Se fosse verdade haveria tanta gente a sofrer de solidão? E o que é a solidão a não ser o não ter com quem dividir a alegria de viver. Já reparaste quantos morrem sozinhos e vivem sozinhos. Será essa a promessa de felicidade anunciada que lhes fizeram ao nascer?
Eu por exemplo tenho dias em que rejubilo de felicidade outros de amargura. Não somos todos assim? Incertos, instáveis e transitórios? E não é assim a própria vida? Então porquê insistires na única pergunta a que nunca te responderei?
Um destes dias via um filme e um dos personagens perguntou: Se pudesses voltar atrás o que é que mudarias na tua vida?
Foi como se a pergunta se dirigisse a mim e pela primeira vez encontrei a resposta à pergunta que tantos fazemos.
E a resposta foi simples e intuitiva e surgiu de dentro do mais verdadeiro da minha consciência: Se pudesse voltar atrás não mudaria nada, faria tudo tal qual fiz.
Nem podia ser de outra maneira, porque se fosse, não seria a minha vida. Era outra vida.
Porquê?
Porque só depois de vivermos os problemas descobrimos as soluções e as soluções só vêm com a prática e o conhecimento. Ora o que te digo é que a nossa vida é o que é e como é porque não a podemos antecipar. À medida que a vamos vivendo é que a aprendemos. Ninguém nos ensina a viver. Cada vida é uma descoberta única, e a felicidade é como a vida, ninguém no-la ensina mas também se aprende.
( diários de mim ) - cartas de amor são ridículas
Lis, 05maio/2