terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O canalizador
Q – Dá licença…
F – Entra…
Q – Quando quiser já pode ir tomar o seu duchezinho… o trabalho já está              
        feito… desentupi a torneira, endireitei o cano e alarguei a anilha.
F – Já não era sem tempo…há oito dias que não tomo duche.
Q – Se calhar já está todo encardido.
F – Poucos comentários senhor canalizador.
Q – Desculpe senhor canalizado.
F – Então quanto é que eu lhe devo.
Q – Já disse, desentupi a torneira, endireitei o cano e alarguei a anilha.
F – Pronto … e quanto é que eu tenho de lhe pagar por isso…
Q – É quanto o senhor me quiser dar.
F – Eu não gosto de fazer preço ao trabalho das outras pessoas. Diga lá quanto é…
Q – Como é a primeira vez que eu trabalho cá em casa, o senhor dá-me o que quiser e 
       depois fazemos contas.
F – Óh,  hó, hó, assim estamos a perder tempo.
Q – Eu pelo tempo não levo nada. Eu só levo por desentupir a torneira, endireitar o  
       cano e alargar a anilha.  
F – Pronto homem… está certo… o trabalho é seu. O senhor chega ao pé de mim e diz:   
       Eu levo tanto.
Q – Mas quanto?
F – O que estiver na sua consciência…
Q – Está bem.
F – Então quanto é…
Q – O que tiver na sua consciência.
F – Óh homem assim já me começa a cheirar mal.
Q – Também a mim. Se calhar é do senhor não tomar banho há oito dias.
F – Óh homem cale-se por favor…
Q – Se me calar não consigo dizer quanto custou o trabalho.
F – E quanto custa…
Q – Quanto é que o senhor costuma pagar por um trabalho destes…
F – Sei lá… aqui há tempos esteve cá um canalizador a fazer um trabalho destes…
Q – E quanto é que o senhor lhe pagou?
F – O que o trabalho dele merecia.
 Q – E quanto é que o senhor pensa que o meu trabalho merece?
F – O que está na sua consciência. Você é que sabe.
Q – Eu é que sei? Eu não quero pedir assim tanto…
F – Óh homem, mas você até agora ainda não pediu nada.
Q – Ainda não pedi nada e o senhor já está todo zangado…
F – Irra, irra, quanto é que você quer?
Q – Eu já disse…
F – Então quanto é?
Q –  O que você quiser dar…
F – Óh homem, óh homem então quanto é que você leva por arranjar uma torneira pequena?  
      
Q – Há e você acha que aquela torneira era pequena?
F – Quanto é que você leva por uma torneira deste tamanho?
Q – Isso era um exagero… uma torneira tão grande.
F – Quanto é que o senhor leva por arranjar uma torneira normal?
Q – Se a torneira estivesse normal não precisava de ser arranjada. Além disso o meu
       trabalho tem que ser pago em conjunto. Sim porque a torneira tem que ter camo e
        anilha.
F – E quanto é que você me leva por isso, alma do diabo.
Q – Há… isso é conforme.
F – É conforme o quê?
Q – Há uns fregueses que sabem dar o valor do trabalho dos outros e há outros que se
       agarram ao dinheiro como cão ao osso…
F – Sim…e quanto é que você me leva por me endireitar o cão e de desentupir o osso…
Q – Enganou-se…
F – Enganei-me …pois enganei-me…eu já não sei o que digo. Ouça lá você acha quanto
       é que…quanto é que um freguês que não é sovina deve pagar… para lhe dar um
       exemplo.
Q – Paga sempre mais que um que é sovina.
F – Pronto… pronto… eu não sou sovina, como já lhe disse. Não é verdade? Quanto é
       que lhe devo pagar.
Q – Deus me livre… se eu ia fazer o preço de um que não é sovina… eu ficava a perder.
F – Então vamos lá saber outra coisa. Vamos lá comparar o seu trabalho com o trabalho
       de um barbeiro… por exemplo.
Q – Boa ideia… sim senhor…
F – Então quando você vai ao barbeiro quanto é que você paga por uma barba…
Q – Nada! Eu faço a barba em casa.
F – Faz a barba em casa… pois claro, não podia haver comparação possível…
Q – Não podia haver comparação. Vá dizer ao barbeiro para endireitar o cano da
       torneira haver se ele é capaz…
F – Ouça lá… quanto é que você quer: vinte Euros, cem Euros, quinhentos Euros…
Q – O senhor está a ofender-me…ouviu? O senhor acha que eu ia pedir vinte Euros por
       um trabalho destes?
F – Este homem mata-me. Por causa de uma porcaria de uma reparação numa torneira
        e num cano…
Q – E na anilha, se faz favor…
F – Olhe lá você vai levar cem Euros e quinhentos de gorjeta, e desapareça daqui que
         nunca  mais o quero ver….
 Q – Eu já estava à espera disto…vai-me dar só cem Euros. O senhor é um explorador de    
       quem trabalha, é um burguês sem coração…
F – Saia, saia, saia daqui e nunca mais o quero ver.
Q – Eu não saio daqui sem antes receber o trabalho que fiz à sua mulher.
F – E que trabalho foi esse?
Q – Desentupi a torneira, endireitei o cano e alarguei a anilha.
F – E quanto me leva por isso…
Q – É quanto o senhor me quiser dar…

Rio de Mouro 12-02-2020
https://www.youtube.com/watch?v=Lga79yTKq60&feature=share&fbclid=IwAR1XRorOx-F55w-FDJSzJ5ysBcFlftTr4CYIXKW93jUOXTaqmfmemJMgNXE

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Projecto Criar Afectos
I  _  Os parabéns te quero dar,
Pelos teus onze aninhos,
Conheci-te eras bebé,
Davas os primeiros passinhos.
II
Não fiquei logo contigo,
Por razões pessoais,
Quando pude me juntei,
Não te abandonei mais.
III
Pensado para a terceira idade,
Actividades a condizer,
Não fico fechado em casa,
Venho para ti com prazer.
IV
Contigo fiquei mais rico,
Mais amor e carinho,
Quero contigo continuar,
Trilhando o bom caminho.
V
A ser mais tolerante,
No teu seio aprendi,
A dar mais valor,
A tudo o que já vivi.
 VI  
 A nossa roda de amigos,
 Pessoas menos saudáveis ajudou, 
Como os vimos e os vemos,
A vida delas mudou.
VII
Não é do ar com certeza,
As diferenças que notamos,
São do carinho e afectos,
Que todos lhe dedicamos.
VIII
Tudo isto só foi possível,
Com intervenção solar,
O sol que nos orienta,
Não nos deixa preguiçar,
IX
O sol de que vos falo,
Não é sol real não,
Ele ajuda velhos e novos,
Sem fazer distinção.
X
Para fazer esta obra,
Foi preciso uma arquitecta,
O edil freguês disse sim,
Para se atingir esta meta.
XI
A colenda arquitecta,
Todos vós sabeis que é,
À Doutora Marisa agradecemos,
Por termos o Projecto de pé.

Rio de Mouro 02-02-2020. Francisco Parreira.